Dionísio
Dionísio era filho de Zeus e Semele, princesa tebana.
Hera, a mulher de Zeus, movida por seu ciúme, assumiu a forma da ama de Semele e lhe aconselhou a chamar Zeus diante dela. Zeus, depois de muita resistência, cumpriu o pedido de sua amada e lhe apareceu no meio de raios e relâmpagos.
O palácio pegou fogo e Semele sucumbiu em meio às chamas. Zeus, porém, por intermédio de Hefesto, retirou Dionísio do incêndio. Há divergências quanto ao que se sucedeu, mas é consensual que Dionísio passou sua infância fugindo de Hera e, por isso, não morou no Olimpo.
Dionísio morou nos campos de Nisa (provavelmente situada na Ásia ou na Etiópia), onde entrou em contato com seres da região: os sátiros e as ninfas, ambos ligados à natureza. Quando adulto, enlouquecido por Hera, que não cessava em persegui-lo, percorreu grandes distâncias: passou pelo Egito, pela Síria, pela Frígia (onde curou sua demência), pela Trácia, pela Índia e, de volta à Grécia, passou pela Beócia e por Tebas.
Por onde quer que passasse, levava a loucura em seus rituais e incomodava muitas pessoas (principalmente as que conservavam-se sãs).
Alegradas com a presença do deus, muitas pessoas iam a ele para celebrar, levando-o uvas. O festejo durava tempo suficiente para que o suco de uva fermentasse, tornando-se vinho e deixando as pessoas em estado de êxtase (palavra do grego ékstasis, que significa "fora de si"). Em estado de êxtase, as pessoas "deixavam de ser elas mesmas" e entravam em contato com uma "realidade espiritual", o que garantia um caráter transcendente ao ritual dionisíaco.
Passando de cidade em cidade, os rituais dionisíacos — primitivamente eram praticados apenas por mulheres, conhecidas como Bacantes ou Menades, mas depois admitiu-se também homens —, eram muito festejados em Atenas. Envolviam sexo, vinho, dança, música e a dilaceração de animais, que eram logo após comidos crus; era um contato com a natureza animal do homem.
Em Roma celebravam-se as festas Liberais — Dionísio era também conhecido como Baco e Liber —, mas os atos indecentes em que as damas se envolviam não tardaram a incomodar. No ano 558 da fundação da cidade (186 a.C., segundo o calendário gregoriano) as festas Liberais foram proibidas; mas continuaram a ser celebradas, contrariando a decisão do senado romano.
Tendo que se adaptar à sociedade e tornar-se mais civilizado, o ritual passou por mudanças: estabeleceu-se um local fixo para os festejos, dentro da pólis: o anfiteatro (do grego amphitheatrón, que significa "teatro dos dois lados"). De dia celebrava-se a sátira (comédia), e à noite celebrava-se a tragédia. Os animais que eram sacrificados foram substituídos por um bode, que ao ser expulso da cidade levava com ele todos os pecados. O bode expiatório foi depois substituído por um ator.
Dionísio se caracterizava por uma personalidade revoltada e "do contra", valorizava a vida como ela é — ou melhor: como ele pensava ser —, e era, dentre os deuses gregos, o único transcendente. Por ter sido intensamente perseguido por Hera, viveu por algum tempo louco. As Bacantes costumavam ficar loucas durante os Bacanais; como, por exemplo, as filhas do rei Preto e outras mulheres de Argos que, alucinadas, "fora de si", chegavam a devorar os próprios filhos de tenra idade.
Estátua romana do Século II representando Dionísio, exposta no Louvre.
Fonte: Wikimedia Commons¹
Dionísio aparece na escrita minóica Linear B — que existiu entre os séculos XV a.C. e XII a.C. —, fato que atesta a antiguidade da lenda. Diz-se que de Ariana teve muitos filhos: Cerano, Toas, Enopion, Taurápolis e outros, todos pouco conhecidos.
Como legado, os Bacanais nos deixam o teatro (da forma que o conhecemos hoje) e o carnaval, que é celebrado em forma de ditirambo e possui os elementos da bebida alcoólica — ligada ao "estar fora de si" —, do sexo, da música, da dança e das fantasias — ou seja, como nos rituais dionisíacos, celebra-se a vida e a carne (no sentido do "lado animal" do homem), com a presença de um estado de transe, de êxtase.
Bibliografia:
1 - Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dionysos_Louvre_Ma87.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2016.
YOUTUBE. Entre o Céu e a Terra - Entrevista Bernardo de Gregório. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2uDYSwitcCY>. Acesso em: 09 jun. 2016.