Polaridade no Jornalismo
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A importância do jornalismo se revela não só no acesso à informação, mas na formação de opinião das grandes massas, sendo assim uma poderosa ferramenta político-ideológica. Observando a história e até mesmo alguns livros distópicos (como “1984” de George Orwell e “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley) podemos notar, também, a importância da desinformação para perpetuar governos autoritários e despóticos.
A polaridade política no jornalismo se apresenta, basicamente, como Esquerda e Direita. A Esquerda, favorável à centralização econômica nas mãos do Estado, e liberal em âmbito social; e a Direita, defensora de uma economia liberal e baseada no livre mercado, e conservadora em âmbito social, dada sua indiscutível influência religiosa. Correntes de pensamento menores que estão ganhando força nos tempos atuais - como o anarcocapitalismo - não nos são relevantes, já que, no Brasil, o poder midiático a eles não pertence.
Um tema que atualmente está em intensa discussão e divide as pessoas entre pró e contra, de forma bastante equilibrada, é a legalização do aborto. A Esquerda se posiciona a favor, argumentando que o aborto é um direito da mulher e sua execução se baseia na visão de que a criança, ainda no ventre da mãe, faz parte do organismo de sua respectiva progenitora e cabe somente a ela a escolha do destino que sua gestação terá; enquanto a Direita luta pela vida do feto, dada também sua influência religiosa e suas bases cientificas.
A exemplo, temos a revista Carta Capital, que usaremos como “representante” da Esquerda, a qual deixa estampado em seu artigo “Por que legalizar o aborto?” os seguintes argumentos: “[...] Por que legalizar o aborto? Para consolidar o Estado laico, aperfeiçoar a democracia e promover os direitos sexuais e reprodutivos e a saúde das mulheres.”
Já Reinaldo Azevedo, colunista da Veja (revista conhecida por posicionamentos em Direita) mostra em seu artigo “O povo é melhor do que sua elite: maioria é contra aborto mesmo em caso de microcefalia. Feminazismo baba de ódio!” o que pensa sobre o aborto em caso de microcefalia e o que as estatísticas nos mostram: “[...] a maioria da população, ora vejam, à diferença de parcela majoritária da imprensa, leva em conta o fato de que a microcefalia não é incompatível com a vida.” Mostra, ainda, sua opinião sobre como as esquerdas encaram o assunto: “O aborto é um daqueles temas que levam as esquerdas a ter tentações de romper com o povo, de romper com a democracia. [...]”
A influência política sobre os jornalistas se revela não só na defesa de opiniões que a eles convém, mas também na forma de contar fatos objetivos, que teoricamente, deveriam ser contados de uma única forma.
Um tema que, como descrito acima, é alvo de discussão e rivalidade entre a esquerda e a direita, é o impeachment - ou não - da presidente Dilma Rousseff.
A revista Carta Capital, novamente, expressa em seu artigo “Quando impeachment é golpe” seu posicionamento: “[...] é fundamental que detalhemos o exame de admissibilidade realizado pela Câmara dos Deputados. Caso seu presidente rejeite a acusação, não é cabível recurso ao plenário da casa, uma vez que não seria oportunizado ao presidente da República o direito à defesa. Além disso, a antecipação do exame de admissibilidade vulneraria a regra da maioria qualificada a que se refere o artigo 86 da Constituição, onde se exige não a mera maioria simples, mas o quórum de dois terços. O descumprimento desses requisitos materiais e formais para a comissão do impeachment seria afrontosamente inconstitucional e traria consequências irreparáveis para o exercício da função pública democraticamente atribuída ao presidente da República, com gravíssimas consequências para a segurança social e política.”
Em contraponto, Reinaldo Azevedo, novamente expressa sua opinião em seu artigo “Vá embora, Dilma! Saia logo daí! Aprenda a ter compostura e compaixão! Ou virá o impeachment!”: “A saída de Dilma não é condição suficiente para começar a arrumar a bagunça deixada pelo PT, mas é condição necessária. Sem isso, nada feito! [...]” diz, ainda: “A incompetência de Dilma deveria ser o bastante para deixar o cargo. [...]”
Podemos concluir, então, que a influência política sobre os jornalistas se transforma também em influência sobre seus leitores, os quais são todos nós.
É justo que o povo tenha a liberdade de assumir posições políticas e de exercer seus direitos contra ou a favor de determinado governo ou cousa social, um cidadão pode assumir-se em Direita ou Esquerda ou em qualquer outro enquadramento político-ideológico que exerça ou não atos de sua ideologia. Tendo em vista este pensamento, cria-se a base para repreender qualquer atitude das grandes imprensas formadoras de opinião - alienadoras ou não - que apresentam ao povo fatos, julgamentos, opiniões ou qualquer material em qualquer meio linguístico que possa servir de instrumento para denegrir a Verdade absoluta sem suas variabilidades interpretativas, uma vez que é inegável a variação de fatos sobre um mesmo tópico vindo de diferentes “monstros” da informação.
Não se vê uma massa mobilizada a mudar as atuais questões que remetem a informação disseminada como verdade detentora de total fé pública em território nacional, a razão para a ausência de tal mobilização não pertence ao mérito que é o nosso ao redigir este artigo.
Conclui-se, então, que o que decorre à mente do povo que guerreia no campo da opinião (campo este onde o sangue dos menos munidos de argumentos é derramado) muitas vezes não se dá pela única e pessoal capacidade de um individuo formular e idealizar suas posições sociopolíticas ou quaisquer que sejam suas conclusões sobre uma questão de âmbito minimamente social, mas sim, dá-se pela Verdade, possivelmente omitida, incompleta ou adulterada, dá-se pelas opiniões, que ao contrário do que muitos pensam, pode sim ser erronias.EndFragment